PÁGINAS

quarta-feira, dezembro 28, 2011

Rebordosa


Tem dias que é melhor não acordar 
Tem dias que é melhor deixar pra lá 
Toda a energia acumulada no repouso 
Pra poder mais um dia levar 
Tem dias que é melhor não acontecer 
Tem dias que eu prefiro esquecer 
E me entregar de uma vez à loucura 
E desejar que ela não tenha cura 
Pra nunca mais voltar a ser... 
Tem dias que é melhor nem saber 
Tem dias que só quem sabe é você 
Que existe alguém como tu 
No cú do mundo 
Que chora, que come, que fode, que ama... 
Que respira, que engana, que morre, que trama... 
Que sofre, que bebe e engole... 
Essa mentira e ninguém te socorre 
Pois estão na mesma merda que você! 
E não dá pra entender 
Por que é que tem que doer? 

E então este dia passa 
E a vida que era sem graça 
Passa novamente a valer. 
E você continua sem entender 
Por que num dia tudo está bem 
E no outro você prefere morrer? 

Tem dias que só quero esquecer 
Tem dias que é melhor nem nascer 
Tem dias que é melhor esquecer que o tempo é curto 
E pedir logo para ter um surto de não querer viver 
Tem dias que você quer matar um 
Tem dias que você é só mais um 
Tem dias que o inferno ta cheio 
E você ainda perde no sorteio de levarem mais um 
Tem dias que eu não tô nem aí 
Tem dias que eu só quero dormir 
Tem dias que prefiro mentir para mim mesmo 
Pra fazer a tristeza sumir 
Tem dias que não consigo nem mentir 
Tem dias que não consigo dormir 
Tem dias que eu tenho que beber, 
Encher a cara! 
Pra tentar fugir de mim 
E esquecer de você. 
Mas existem outros dias... 

Nilo dos Anjos

PRA NÃO PERDER A GUERRA






Ratos do deserto rondando por perto. 
Som de trovoadas sem hora marcada. 
Caos por todo lado, alicerce da realidade. 
O sinal está aberto em mais uma esquina da cidade. 

Sigo por esta estrada. 
Gritos de socorro ecoam na madrugada. 
Mais um corpo tomba na calçada. 
Grades de ferro lhes predem em suas casas. 
Sirenes fazendo zoada, 
Nesta trilha sonora inacabada.

Mas o que dói é a espera... 

Mas ainda não foi desta vez 
E o tambor da vida gira na rua
A roleta russa continua 
Esperando outro freguês. 

Mais um sinal em mais outra esquina 
E a esmola dessa vez é pra menina. 
Seus olhos me acalmam 
Enquanto outros me oferecem cocaína. 
Fecho o vidro de forma repentina 
Como quem já conhece esta rotina. 

Fugindo eu sigo por essa estrada. 
Olho pra trás e não vejo nada. 
A palavra de ordem é a desordem e o futuro é incerto 
E a grande mentira é ser honesto.

Quero ficar sozinho sem pensar no resto. 
O vício da guerra está em meus versos. 
De uma vida contaminada, é o reflexo 
Da sociedade perdida e sem nexo 
Que se revela em parte anexa 
A uma outra apagada, é complexa! 
Prefiro fugir a fingir que não posso fazer nada 
E perder essa batalha batendo em retirada.


Nilo dos Anjos

quinta-feira, dezembro 22, 2011

Vida Seca


Calam-se as vozes 
Rompem-se as vestes 
Deixam-lhe as preces 
Como último conforto. 
Acha-te deitado 
inchado, rígido, inerte 
e uma flor silvestre 
em traço rupestre 
na lápide que tu vestes 
enfeita agora seu corpo. 
Devolves ao agreste 
terra castigada do nordeste 
essa carne podre que está prestes 
a transformar-se em adubo. 
Inútil alimento para esta terra sedenta 
inútil fragmento de uma vida lazarenta 
onde as chagas purulentas corroídas pelas 
pestes desta vida, tosca vida! vida pobre... 
da ignorância se alimenta. 
Mas que não nega sacrifícios 
tem a esperança como abrigo 
faz da fé o seu escudo 
que aceita o castigo 
enfrenta a fome, enfrenta a seca, 
enfrenta a morte 
sempre acerca 
feche agora o teu jazigo.



Nilo dos Anjos

terça-feira, dezembro 20, 2011

Juízo Final - Nelson Cavaquinho (1973)

Jogo da Vida




Nós entramos no jogo 
Sem saber quanto tempo temos 
As vezes entramos ganhando 
Outras perdendo 
Não sabemos as armas que usaremos 
Nem os inimigos que enfrentaremos 
E então perdidos a nós mesmos combatemos 
E o jogo prossegue 
Sem intervalo, sem descanso, 
Sem placar e sem torcida 
O juiz é comprado e o técnico 
Abandonou a partida 
E você está só 
Consigo mesmo 
Neste jogo da vida 
A morte é a vitória 
Com direito a flores e caixão 
Sem fama, sem glórias, 
Sem perdão. 
No final você é sempre o vitorioso 
A sete palmos do chão. 
Agora jaz deitado 
E o jogo acabou 
Esta é a sua recompensa 
Mas você nem sabe se ganhou. 
Que merda !

Nilo do Anjos 

Só você que não


Você merece João
Saiu de casa às quatro da manhã pra trabalhar na construção
Você merece João, chegou em casa as 10 da noite depois de 3 horas
no lotação.

Você merece João
ganhar um salário mínimo que disseram ser a sua salvação
pagar a escola, saúde, lazer e ainda sobrar pra alimentação. haha!


Mas você merece João
o mundo é uma maravilha
você trabalha 10 horas por dia pra enriquecer mais um ladrão

Você merece
O Brasil é uma festa
Tá todo mundo se divertindo
Só você que não.

Nilo dos Anjos

sexta-feira, dezembro 16, 2011

Sucessivos erros.


Como xiita numa guerra santa
Tentando impor a sua crença
Eu quis lhe impor o que eu sentia

Como jornalista em busca da verdade
Brigando por audiência sem qualidade
Sua privacidade eu invadia

Como um soldado que durante guerra
Reza pela paz na face da terra
Eu disparei o primeiro tiro

Como político depois de eleito
Que foge do povo a qualquer preço
Não cumpri o que prometi

Você declarou estado de sítio...
Perdi meus direitos de cidadão
Senti ciúmes sem razão
Disse sim quando era pra dizer não
Confessei minha traição

E como um advogado diante do júri
Mentindo para absorver o réu
Protestando a acusação
Representando um papel
Pra não te perder
Te enganei

Nilo dos Anjos

segunda-feira, dezembro 12, 2011

Beleza rara

Beleza rara 
Metade cara de uma outra vulgar 
Metade solução de um outro problema 
Das duas a única que vale a pena 
Quero agora suas asas cortar 
Pois sou invejoso
Não vou te negar 
Por causa da outra beleza vulgar 
Fui contaminado sem ter como curar 
Por isso lhe prendo pra te admirar 
Em uma gaiola em cima de um altar 
Mereço um castigo por não compartilhar 
A sua beleza para outros olhar 
Mas não tenho medo de alguém me matar 
O que mais me apavora é cego ficar 
Beleza rara... Vou sempre velar 
Eu que lhe prendo quero me libertar 
De seu cândido encanto furtivo ao olhar 
Desses olhares vulgares que não vem da alma 
Estou cego de tanto vê-la 
E acabo de me curar. 

® Nilo dos Anjos 19/02/02

Beleza

A beleza entra em choque 
Com sua falta de destreza 
Em lidar com seres de outra natureza. 

Por estar sentada tal qual alteza 
Em seu trono ilibado sem realeza,
Vai cavando sua cova 
Sem se preocupar a sua volta 
Como uma rainha morta 
Sobre a fria mesa. 

Esbraveja com soberba 
Que ataca aos ouvidos 
Daqueles que por serem diferentes, aos seus olhos, 
De seu mundo são banidos. 

Com irônicos risos, 
Como se fosse preciso, 
Arranca os olhos da alma 
E não enxerga mais nada 
Além do espelho... 
Morrerás como narciso! 

quinta-feira, dezembro 08, 2011

A MULHER DO METRÔ




Ela quase não tem bunda, 
Mas é desbundante. 
Não tem peito grande, 
Mas não se deixa despeitar.
Ela não tem charme, 
Mas é impossível não notá-la 
E todos se calam quando ela fala.
Com seu passo miúdo, ela segue adiante. 
E não tem medo de sentir-se triunfante. 
Destas que sabe o que quer sem ser arrogante 
Tem poucos amigos, mas muito importantes. 
 Já leu Dom Quixote de Miguel de Cervantes 
E na divina comédia, ela é o inferno de Dante. 
Seu nome eu não sei, mas juro que pediria 
No momento certo em outro dia. 
Dizem que ela tem fama de só transar com quem ama 
E todos desejam leva-la pra cama. 
Ela foi embora e nem olhou pra trás.
Desceu na estação de Santana. Satanás !
A mulher do metrô que fez fama.
Amanhã ela volta, mas pra minha revolta
Parece aguardar alguém... que por seu nome lhe chama.

Nilo dos Anjos

quarta-feira, novembro 09, 2011

Apenas o vestido

E se você pensar em voltar 
Venha de azul 
E não esqueça ao entrar 
Do brilho nos olhos 

Venha de salto alto 
E apenas o vestido sobreo corpo 
Na boca um baton vermelho salmão 
E a língua úmida de desejo 

Entre como o vento. 
Seja o vento! 
E ao mesmo tempo... 
O tempo! 
Não o deixe passar! 
Feche a porta e num beijo 
Faça-o parar!




Nilo dos Anjos

Nada



No meio do nada 
Alguém chega 
Alguém vai 
Alguém vaga 

Ningúem sabe nada 
Onde inicia? 
Pra onde vai? 
Quando acaba? 

Há um viajante 
Um cavaleiro errante 
Em busca de sua amada 
Há um estrangeiro 
Que como o cavaleiro 
Caiu numa cilada. 

Há o mundo inteiro 
preso num banheiro 
e a única saída é a privada. 

Ninguém sabe nada 
Ninguém sabe nada 
E num belo dia 
tudo acaba.


Nilo dos Anjos

Maria Fumaça





O mundo pára 
A respiração aumenta 
Meus olhos miram outros olhos 
Que miram os meus 
Um instante... 
Coração dispara 
O peito arrebenta. 
Mais uma vez a certeza 
Que entre tantas certezas se apresenta 
Prazer em conhecer e em reconhecer 
Esta hora em outro dia, em outro momento o mesmo éden, 
Outra pessoa, outro desvio de caminho, dois mundos sozinhos... 
Que se cruzam e no encontro se perdem 
Infinito ciclo majestoso 
Infinitos encontros perdidos onde 
Paixões vão e vêm 
E quem perdeu o bonde do amor 
Diverte-se agora neste trem. 
Maria fumaça que partiu da estação sem graça 
Rumo a ilusão...amém 


Nilo dos Anjos

quarta-feira, outubro 19, 2011



Quando a alma não é pequena, sabe o que não vale a pena.

Nilo dos Anjos

quarta-feira, setembro 07, 2011

Quarta-feira


Quarta-feira

(poesia)
Entro no shopping e ouço da voz metálica fria,
bom dia!...
Lá dentro uma luz irradia com tenaz energia, destacando pessoas, coisas, espaços, feito magia...
Tão artificial quanto o sorriso
do caixa eletrônico que cuspia dinheiro
aos olhos das lentes vigias.
Monocromáticas ciclopes, eu diria.
O que  eu queria ?
Enganar-me que me divertia.
E por ironia, nas salas geladas, artificialmente climatizadas, assistia
imagens projetadas vazias... via gente que fingia
via dor que não doía, sorriso que não sorria...cinema.
Tão frustrante quanto a realidade da qual copia.
Tão estéril quanto este poema que compus neste dia.
Veio-me a mente o seu sorriso.

Nilo dos Anjos

quarta-feira, maio 18, 2011

O Beijo


Vou lhe dizer o que houve em meu sonho.
Você vai ouvir, mas não vai escutar.
Vou abrir levemente a minha boca.
Mas nem palavras nem sons irei evocar.
Vou sorver fluidos de sua boca,
Vou lamber teus lábios te beijar.
E saberás sem ouvir de minha boca,
As palavras de meu sonho que me atrevo agora contar. 





Nilo dos Anjos

O preço






Pobres árvores imóveis...
Trocaram a liberdade
Por uma vida longa.
E o vento que corre o mundo
E que as faz balançar
Despencando suas sementes...
Ganhou a liberdade,
Mas quem pode vê-lo ou toca-lo?
Pobre homem...
Que não tem vida longa como as árvores
E pensa que é livre como o vento.
Ganhou inteligência e sensibilidade
E em troca...
Vive em sofrimento...


Nilo dos Anjos

segunda-feira, maio 09, 2011

Quando eu crescer





Quando eu crescer, quero ser como uma criança que olha o mundo pela primeira vez.
Sem medo, sem pudor, sem lembranças, curioso,
encantado...ser pura estupidez  ....(leia tudo)

sexta-feira, março 18, 2011

Pobres da periferia ou Poema aos excluídos


(poesia)
Das mazelas dos miseráveis, sou o pus.
Sou a carne podre que resta aos urubus.
Sou aquele ignorado que não pega ônibus,
não compro em Hiper,
não vou a Super,
não uso cartão mega plus.
Ando pelos cantos como rato...como! os ratos.
Durmo no mato, nas calçadas, nas ruas.
Sobrevivo das migalhas tuas.
Visto roupas sujas.
Caminho pelas trevas e
vejo almas penadas vivas
de suas doenças travestidas,
em corpos nus.
Sou mais um entre uns.



Nilo dos Anjos

quinta-feira, março 17, 2011

O barco



Reflexões sobre o livro: O MONGE E O EXECUTIVO


Todos são iguais perante Deus.
                Só se for perante Ele, porque entre nós a coisa é bem diferente. Vivemos em um mundo competitivo. Estamos a todo o momento tendo que provar pra Deus e o mundo que somos melhores. Seja ao procurar emprego, nas salas de aula, nas competições esportivas, no convívio social. O celular tem que ser o melhor, meu carro tem que ser o melhor (de preferência maior), meu pênis, meus seios, minha bunda. Tudo, tudo tem quer ser melhor e/ou/ maior, o que determina o tamanho, é o poder. Se ter o menor celular significa ter mais dinheiro, mais status, então menor é melhor. E por aí vai. Isto é o que aprendemos o tempo inteiro. E quem é que gosta de se sentir inferior? (leia mais)

QUANDO SE AMA



(poesia)

Não são os olhos,
é o olhar.
Não é a boca,
É o seu gosto.
Não é o que eu escuto,
É o que você fala...
Não é o nariz,
É o cheiro do seu corpo,